A Solenidade de Nossa Senhora
das Dores foi constituída pelo Concílio de Edônea, em 1413. Em 1727, o Papa
Bento XIII estendeu a solenidade à toda igreja e o Papa Pio VII autorizou-a
para todo o mundo católico.
Em São João Del Rei, a
Venerável Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, desde fins do século XVIII
celebra o Setenário das Dores de Nossa Senhora, tendo início na quinta
sexta-feira da Quaresma, com músicas próprias, orações e pregações, meditando
sobre as Sete Dores de Maria Santíssima, com a participação da Orquestra
Ribeiro Bastos.
O Setenário das Dores, que se
encerra com a procissão de Nossa Senhora das Dores, também chamada de procissão
da Procura ou das Lágrimas, na sexta-feira, antevéspera do domingo de ramos, é
certamente uma prática das mais genuínas e místicas da tradição religiosa
são-joanense.
O palco, todo revestido de
véus e cortinas pretas e enfeitado de ramos de arnica, é montado no trono e no
camarim do altar-mor da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar. No centro
a sugestiva imagem de Nossa Senhora das Dores ao lado de uma cruz preta, de um
de cujos braços pende um lençol branco, dobrado.
A cerimônia tem deu
desenrolar semelhante ao das novenas de outras festas, onde porém, a música,
principalmente do Pe. José Maria Xavier, atinge toda a ternura, envolta de
suave tristeza, que só mesmo os gênios são capazes de produzir. Neste canário
de inigualável beleza e misticismo ouve-se, diariamente, uma pregação sobre
cada uma das sete doras que, segundo a piedade cristã, na sua compaixão e
solidariedade, teria vivenciado a divina mãe do Redentor. Conserva-se ainda o
costume de, para essas pregações, se utilizar o púlpito do lado do evangelho da
Catedral, fato que confere ao pregador uma aura daquele respeito de que se
rodeavam os grandes oradores sacros do passado. A todo esse efeito barroco da
cerimônia, acresce a letra das orações e dos cantos, tanto em português quanto
em latim, de uma profunda tristeza e ansiedade, como esta que diz: “Em memória da sétima dor, da soledade que
teve a Senhora, ficando sem Filho, nem vivo, nem ainda morto.”
Gostaria de enriquecer ainda
mais este texto com as duas últimas estrofes da primeira parte do poema sobre a
Quarta dor de Maria Santíssima, escrito por Pe Sáulo José Alves do livro Stabat Mater. Lembrando que
a meditação sobre a quarta dor é: “A amargura que teve a Senhora, encontrando
seu amado Filho, com a pesada Cruz às costas.”
“Teus olhos, não em lágrimas, mas em sangue banhados,
Diante da dor e aflição daquele momento extático...
Solidão da Mãe, a quem ninguém socorre nem consola...
Solidão do Filho, cujo abraço da Mãe é negado pelos
homens...
Desesperam-se as mulheres em Jerusalém e choram...
Outra, em pano, recolhe a face despresível estampada.
Basta, Senhora! Torno-me incapaz de mais bradar,
Ante a amargura da tão tenebroso sofrimento.
Desgraçado que sou e desiludido sem igual,
Permita-me participar de tua graça, de teu amos,
Já que és a predileta do Pai. Minha desilusão
Transforma-se, pós-martírio, em glória de eterna
luz...”
Pe. Sáulo José Alves
Parte
Musical
Martiniano Ribeiro Bastos: Veni Sancti Spíritus, Dómine ad adjuvándum, Ó vos
omnes, Motetos das Dores.
Pe. José Maria Xavier, Geraldo Barbosa de Souza,
Antônio dos Santos Cunha: Ó vos
omnes.
João Francisco da Mata: Stábat Mater.
Francisco de Paulo Vilela: Moteto das Dores.
Referências Bibliográficas:
Piedosas e Solenes Tradições
de Nossa Terra. Novenas, Tríduos, Setenário, Quinquena e Meses. II Volume – São
João Del Rei
Visita à Colonial Cidade de São João Del Rei.
Autor: Antônio Gaio Sobrinho.
Stabat Mater. Setenário das Dores de Maria Santíssima,
Poemas, Sermões e Reflexões.
Autor: Pe. Saulo José Alves
Créditos Fotográficos:
Acervo de fotos sacras de Aline Mendes.
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